sexta-feira, 3 de maio de 2013

A Bíblia sustenta a confiabilidade das sensações? - Vincent Cheung


              
                     
                        Qualquer cristão que admite algum grau de confiança no empirismo e na ciência para o conhecimento sobre a realidade faz isso por razões erradas. Para ilustrar, o filósofo cristão Ronald Nash escreve: 

[…] muito do conteúdo da Bíblia depende da experiência e do 
testemunho humano. Se os sentidos forem completamente não confiáveis, então não poderemos confiar nos relatos de 
testemunhas que dizem, por exemplo, que ouviram Jesus ensinar, 
ou que o viram morrer, ou que o viram ressurrecto três dias 
depois da sua crucificação. Se não houver nenhum testemunho 
sensorial da ressurreição de Jesus, então a verdade da fé cristã 
fica exposta a sério desafio. 1

                 Tolice. Ele diz: “muito do conteúdo da Bíblia depende da experiência e do testemunho humano”. Isso é mentira. Nem uma só proposição na Bíblia depende da experiência e do testemunho humano. Antes, todo o conteúdo da Bíblia depende da inspiração divina, o que inclui às vezes um registro e uma interpretação divinamente inspirada do autor sobre a experiência e o testemunho humano. Temos aqui uma visão segundo a qual os autores bíblicos devem depender da experiência e do testemunho humano quando escrevem, pelo menos para obter algo do conteúdo; a outra diz que eles dependem apenas da inspiração divina, inclusive quando escrevem sobre a experiência e o testemunho humano. Há uma grande diferença entre as duas. Os não cristãos acreditam na primeira, mas os cristãos acreditam na segunda. 

Nem uma só proposição na Bíblia depende da experiência e 
do testemunho humano. 

                  Ele continua: “Se os sentidos forem completamente não-confiáveis, então não poderemos confiar nos relatos de testemunhas que dizem, por exemplo, que ouviram Jesus ensinar, ou que o viram morrer, ou que o viram ressurrecto três dias depois da sua crucificação”. Isso também é falso. 

                  A menos que os sentidos sejam completamente confiáveis, não há nenhuma maneira de saber pela sensação até que ponto nossos sentidos são confiáveis. Mas se os sentidos de forma alguma são confiáveis, não podemos nem mesmo saber pela sensação que eles de forma alguma são confiáveis, pois do contrário isso significaria que podemos de fato verificar pela sensação que toda sensação é falsa ― e estaríamos obtendo assim algo correto pela sensação, o que contradiria a noção que os nossos sentidos de forma alguma são confiáveis. Alguém poderia dizer que, pelo menos às vezes, os sentidos não são confiáveis; mas então, novamente, não haveria nenhuma maneira de julgar pela sensação até que ponto os sentidos são confiáveis, ou se são confiáveis em um caso particular.

A menos que os sentidos sejam completamente confiáveis, não há nenhuma maneira de saber pela sensação até que ponto nossos sentidos são confiáveis.

                        A verdade é que não podemos saber pela sensação qual sensação está correta e qual está incorreta, ou o grau de confiabilidade da sensação. Portanto, qualquer grau de dependência do empirismo em um dado assunto resulta em completo agnosticismo sobre esse assunto. Isto é diferente de um mero envolvimento da sensação, como no testemunho infalível das Escrituras sobre as observações empíricas de algumas pessoas. A dependência das Escrituras é da inspiração, com dependência zero da sensação. Se Deus assim o quisesse, qualquer passagem bíblica escrita sobre a observação empírica de uma pessoa poderia, de fato, ter sido escrita sem nenhum envolvimento da observação empírica. 

                        Por exemplo, o primeiro capítulo de Gênesis foi escrito sem qualquer dependência ou envolvimento da observação empírica pelo autor de Gênesis, mas não é menos verdadeiro. O mesmo poderia ter acontecido com todas as passagens bíblicas sobre a ressurreição de Cristo, se Deus assim tivesse desejado. Portanto, nem uma só passagem bíblica realmente depende da experiência e do testemunho humano, embora o conteúdo de algumas passagens bíblicas de fato envolva experiência e testemunho humano, sem depender deles.

                                  Se os sentidos são menos que infalíveis, precisamos de uma autoridade ou padrão infalível não sensorial para julgar todos os casos de sensação para obtermos alguma informação confiável a partir delas. Mas quando aceitamos um caso de sensação como sendo preciso por causa do testemunho dessa autoridade ou padrão infalível não sensorial, estamos na verdade aceitando o testemunho dessa autoridade ou padrão não sensorial, e não o testemunho da sensação. A Bíblia inclui testemunhos infalíveis sobre o que algumas pessoas perceberam pelos sentidos, e aceitamos que nesses casos as pessoas sentiram o que pensaram ter sentido porque aceitamos o testemunho da Bíblia sobre as sensações delas, e não porque aceitamos o testemunho das sensações delas. Essas pessoas poderiam estar erradas em todos os outros casos. Nash omite completamente essa distinção óbvia e necessária.

                       Finalmente, ele diz: “Se não houver nenhum testemunho sensorial da ressurreição de Jesus, então a verdade da fé cristã fica exposta a sério desafio”. Mas por que “a verdade da fé cristã” precisa depender do “testemunho sensorial”? De onde vem essa alegação e como ela é justificada? É claro que existem testemunhos sensoriais da ressurreição de Jesus, mas não temos contato direto com eles. Mesmo se tivéssemos, isso não ajudaria muito, pois não somos apóstolos e, portanto, nossa opinião sobre esses testemunhos não seria infalível. No entanto, temos contato direto com os testemunhos apostólicos infalíveis sobre esses testemunhos sensoriais e os testemunhos infalíveis dos apóstolos sobre o que eles próprios viram.


                                  Para nos certificarmos de que entendemos o ponto de Nash, combinamos a segunda e a terceira parte de seu parágrafo: “Se os sentidos forem completamente não confiáveis, então não poderemos confiar nos relatos de testemunhas que dizem, por exemplo, que… o viram ressurrecto três dias depois da sua crucificação. Se não houver nenhum testemunho sensorial da ressurreição de Jesus, então a verdade da fé cristã fica exposta a sério desafio”. Mais uma vez, isso mostra que ele omite algumas distinções elementares. 

                                 Dizer que os sentidos não são confiáveis não significa dizer que eles estão 
sempre errados. Apenas significa que a sensação não fornece nenhuma base para determinar se um caso particular de sensação está correto ― como, por exemplo, se uma pessoa de fato vê o que ela pensa que vê. Assim, embora os sentidos não sejam confiáveis, as visões do Cristo ressurrecto podem ser verdadeiras. O problema não é que nunca vemos o que pensamos que vemos, mas como saber que vemos o que pensamos que vemos em um dado caso. O testemunho bíblico é que, naqueles casos onde as testemunhas pensaram ter visto o Cristo ressurrecto, elas estavam corretas ― elas de fato viram o Cristo ressurrecto.


O problema não é que nunca vemos o que pensamos que vemos, mas como saber que vemos o que pensamos que vemos em um dado caso.

                               Isso não faz nada para apoiar a confiabilidade da sensação, mas apenas a confiabilidade daqueles vários casos de sensação com base na infalibilidade da inspiração bíblica. A crença de que as testemunhas realmente viram o que pensaram que viram repousa totalmente no testemunho bíblico sobre as suas sensações, e não sobre as sensações em si.

                             Como ilustração, vejamos algumas passagens, começando com uma sobre uma batalha entre Israel e Moabe:





[Eliseu] disse: “Assim diz o SENHOR: Façam este vale cheio de 
cisternas. Pois assim diz o SENHOR: Vocês não verão vento nem 
chuva, contudo este vale se encherá de água, e vocês, seus 
rebanhos e seus outros animais beberão. Isso é ainda pouco aos 
olhos do SENHOR; ele também entregará Moabe nas mãos de 
vocês. Vocês destruirão toda cidade fortificada e toda cidade 
importante. Derrubarão toda árvore frutífera, taparão todas as 
fontes e arruinarão todas as terras de cultivo com pedras”.

Na manhã seguinte, na hora de oferecer o sacrifício, aí estava ―
água veio descendo da direção de Edom! E a terra foi alagada 
com água. 

Ora, todos os moabitas ouviram que os reis tinham vindo para 
lutar contra eles; assim, todos os homens que poderiam empunhar 
armas, jovens e velhos, foram convocados e posicionaram-se na 
fronteira. Quando se levantaram logo cedo na manhã seguinte, o
sol refletia na água. Para os moabitas que estavam defronte dela, 
a água parecia vermelha ― como sangue. “É sangue!”, gritaram. 
“Os reis lutaram entre si e se mataram. Agora, ao saque, Moabe!”

Mas quando os moabitas chegaram ao acampamento de Israel, os 
israelitas os atacaram e os puseram em fuga. E os israelitas 
invadiram o território e arrasaram os moabitas. (2 Reis 3.16-24, 
NIV) 


                           O que os moabitas viram ― sangue ou água? Os moabitas pensaram ter visto 
sangue, mas seus sentidos os enganaram. Sabemos que eles viram água que parecia sangue porque é isso o que diz o testemunho infalível das Escrituras. Assim, essa passagem indica que os sentidos não são confiáveis e mostra que dependemos da inspiração divina para nos informarmos sobre casos particulares de sensações.


                 Outra passagem é Mateus 14.25-27, onde Jesus andou sobre a água: “Alta madrugada Jesus dirigiu-se a eles, andando sobre o mar. Quando o viram andando sobre o mar, ficaram aterrorizados e disseram: ‘É um fantasma!’. E gritaram de medo. Mas Jesus imediatamente lhes disse: ‘Coragem! Sou eu. Não tenham medo!’”. Os apóstolos pensaram ter visto um fantasma, quando na verdade estavam obsevando Jesus. Portanto, até as percepções sensoriais dos apóstolos estavam às vezes erradas. Mas, em si mesma, a passagem de Mateus 14 não está sujeita à falibilidade das percepções sensoriais, pois não está baseada nas percepções sensoriais; antes, é um testemunho infalível sobre como as percepções sensoriais dos apóstolos enganaram eles neste caso em particular.


                         João 12.28-29 diz: “‘Pai, glorifica o teu nome!’ Então veio uma voz dos céus: ‘Eu já o glorifiquei e o glorificarei novamente’. A multidão que ali estava e a ouviu, disse que tinha trovejado; outros disseram que um anjo lhe tinha falado”. Então, eles ouviram um trovão ou uma voz? Não podemos dizer com base na sensação ― até mesmo as pessoas que estavam presentes não chegaram a um consenso. Contudo, o testemunho infalível das Escrituras nos dá a interpretação; portanto, se você acredita que essa voz foi mais que um trovão, sua crença não tem de fato nenhuma base no testemunho da sensação ― sua única base é a autoridade das Escrituras, que é o princípio primeiro e a autoridade última do cristão. 


                            Aqui está outro exemplo: “Os onze discípulos foram para a Galiléia, para o 
monte que Jesus lhes indicara. Quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram” (Mateus 28.16-17). Mas alguns duvidaram?! Eles estavam bem ali observando o Cristo ressurrecto ― como podiam duvidar? Mas eles duvidaram, e isso não é surpresa debaixo de uma epistemologia bíblica que rejeita a confiabilidade da sensação. O empirismo não pode justificar nenhuma crença e não pode resistir ao escrutínio. Logo, “se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos” (Lucas 16.31).

O empirismo não pode justificar nenhuma crença e não pode resistir ao escrutínio.

                             Por esta razão, muito embora Jesus estivesse bem à frente deles, em vez de usar evidência empírica para convencer os discípulos de sua ressurreição, ele preferia que eles cressem com base nas Escrituras infalíveis:



Enquanto conversavam e discutiam essas coisas entre si, o 
próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles; mas 
eles foram impedidos de reconhecê-lo… Ele lhes disse: “Como 
vocês são tolos e como demoram a crer em tudo o que os profetas 
falaram! Não devia o Cristo sofrer estas coisas e então entrar na 
sua glória?”. E, começando com Moisés e todos os Profetas, 
explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as 
Escrituras. (Lucas 24.15-16, 25-27, NIV)

                   O versículo 16 diz: “Eles foram impedidos de reconhecê-lo”. A pessoa que depende de suas sensações estaria realmente em desvantagem aqui, não é mesmo? De fato, o versículo 24 parece implicar a dependência dos profetas de suas sensações: “Então alguns dos nossos companheiros foram ao sepulcro e encontraram tudo como as mulheres tinham dito, mas não viram ele” (NIV). Se esses discípulos foram impedidos de reconhecer Cristo, poderíamos saber o que eles viram ou não viram sem um testemunho infalível dando-nos a verdade? Cristo responde: “Como vocês são tolos e como demoram a crer em tudo o que os profetas falaram!” (v. 25, NIV). Podemos ser tolos e crer em nossa sensação ou podemos ser sábios e crer na revelação bíblica. 



Podemos ser tolos e crer em nossa sensação ou podemos ser sábios e crer na revelação bíblica.

                          Em outro lugar, Jesus diz: “Porque me viu, você creu? Felizes os que não viram 
e creram” (João 20.29). Este versículo é usado às vezes para contrapor o ensino que as sensações não são confiáveis, que elas não podem oferecer nenhum conhecimento. Mas esse uso é uma distorção estranha da intenção do versículo. O versículo não diz nada sobre a confiabilidade das sensações. O contraste imediato não é nem mesmo entre a sensação e a revelação, mas entre a presença e a ausência de uma base de sensação. Jesus diz que uma crença nele sem base na sensação é uma crença abençoada. Ele nem mesmo diz mais abençoada, porque, de fato, nenhuma benção é atribuída a uma crença que tem base na sensação. Não se quer com isso dizer que uma crença que tem alguma base na sensação é falsa; mas, pelo menos neste versículo, nenhuma bênção é vinculada a ela. Como as pessoas vão acreditar se não tiverem as experiências sensoriais relevantes? Jesus fala sobre “aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles” (João 17.20); isto é, pessoas virão à fé em Cristo por causa do que os apóstolos falam e escrevem. 


                         1 João 1.1-3 é uma passagem favorita para os empiristas, mas ela prova o que 
eles querem?


O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os 
nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam 
― isto proclamamos a respeito da Palavra da vida. A vida se 
manifestou; nós a vimos e dela testemunhamos, e proclamamos a 
vocês a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada. 
Nós lhes proclamamos o que vimos e ouvimos para que vocês 
também tenham comunhão conosco. Nossa comunhão é com o 
Pai e com seu Filho Jesus Cristo


                        Certamente a passagem contém várias referências às sensações, mas não dá 
nenhuma garantia de que todas as nossas sensações, algumas de nossas sensações ou qualquer uma de nossas sensações são confiáveis. Pelo contrário, ela é um testemunho divinamente inspirado sobre a experiência que João e os outros tiveram com Jesus Cristo. A partir desta passagem, não podemos dizer que todas as sensações de João eram confiáveis. Na verdade nem mesmo podemos dizer que todas as sensações de João sobre Cristo eram confiáveis, já que ele poderia ter sido um daqueles que pensaram ter visto um fantasma andando sobre a água, quando na verdade tratava-se de Jesus. Assim, a passagem não dá nenhum suporte à confiabilidade da sensação ou uma teoria empírica de epistemologia.

                        O que a passagem diz é que os apóstolos tiveram contato físico com Jesus, que ele tinha um corpo humano real e era a encarnação de Deus. Isso é tudo o que podemos deduzir sobre sensação a partir desta passagem. A maior parte da passagem é totalmente independente da sensação. Por exemplo, João chama Jesus de “o que era desde o princípio”, “Palavra da vida”, “a vida”, “a vida eterna” e “Filho [de Deus]”. Mas é impossível saber ou inferir, a partir de uma sensação temporal do aparecimento físico de Cristo, que ele era “o que era desde o princípio”. Seu corpo era um corpo humano real, de modo que por vê-lo ou tocá-lo ninguém poderia ter sabido que ele era Deus.


                   Quando Pedro disse a Jesus “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mateus 16.16), Jesus respondeu: “Feliz é você, Simão, filho de Jonas! Porque isto não lhe foi revelado por carne ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus” (v. 17). Pedro não veio a saber que Jesus era o Cristo e Filho de Deus pela visão ou toque, mas pela iluminação divina concedida à sua mente pela graça soberana de Deus. Em 1 João 1.1-3, o apóstolo está dizendo aos leitores o que ele viu e tocou; ele jamais diz que descobriu a natureza e identidade do que viu e tocou por ver e tocar. Ele ficou sabendo da natureza e identidade do que viu e tocou da mesma maneira que Pedro ― pela iluminação divina, totalmente à parte da sensação. E é assim que uma pessoa hoje pode vir a conhecer e concordar com a verdade a respeito de Cristo. Que diferença! A passagem dá suporte zero ao empirismo e, em vez disso, revela a impotência da sensação. 


                    Há muitos outros exemplos, mas vamos encerrar com aquele onde Paulo escreve 
sobre a ressurreição de Cristo.


Pois o que primeiramente lhes transmiti foi o que recebi: que 
Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi 
sepultado e ressuscitou no terceiro dia, segundo as Escrituras, e 
apareceu a Pedro e depois aos Doze. Depois disso apareceu a 
mais de quinhentos irmãos de uma só vez, a maioria dos quais 
ainda vive, embora alguns já tenham adormecido. Depois 
apareceu a Tiago e, então, a todos os apóstolos; depois destes 
apareceu também a mim, como a um que nasceu fora de tempo. 
(1 Coríntios 15.3-8) 


                  Como Nash, muitos cristãos defendem que devemos conceder um lugar 
essencial à sensação em nossa epistemologia porque a Bíblia concede esse lugar à 
sensação, e até depende da sensação em algumas passagens. Entre outros exemplos, eles 
usam passagens como 1 Coríntios 15.3-8.


                  Os versículos 5-8 contêm a parte relevante para o empirismo. Novamente, 
recebemos a passagem não como uma sensação ou observação, mas como revelação 
bíblica. Ela pode conter informação sobre sensações e observações, mas a autoridade do 
testemunho reside na inspiração divina das Escrituras, e não no conteúdo empírico ao 
qual ela se refere. De fato, Paulo começa por enfatizar que o que Cristo fez se deu 
“segundo as Escrituras” (v. 3-4).


                  Se Deus endossa Abraão, a autoridade do seu endosso não vem de Abraão. Ao contrário, Abraão recebe credibilidade por causa do endosso de Deus. Se o endosso é específico a um aspecto ou evento na vida de Abraão, o endosso não pode ser aplicado a toda a vida de Abraão. Da mesma forma, quando a Bíblia testifica sobre algo, sua autoridade não repousa sobre aquilo que ela testifica, mas sobre a inspiração divina. Isto é, a Bíblia é verdadeira não porque foi confirmada por sensação ou observação, mas porque foi produzida por inspiração divina.


A Bíblia é verdadeira não porque foi confirmada por
sensação ou observação, mas porque foi produzida por inspiração divina.

                     Claro que existem evidências “empíricas” para a ressurreição de Cristo ― os 
discípulos viram Cristo muitas vezes depois de sua ressurreição. Mas não é por causa dessas ocorrências que sabemos que a Bíblia é verdadeira; antes, sabemos sobre elas por causa da Bíblia, e por causa da Bíblia é que também sabemos que aquelas pessoas de fato viram o que pensaram que viram. Sabemos que Cristo ressuscitou porque a Bíblia assim o diz, e sabemos que os discípulos viram o Cristo ressurrecto também porque a Bíblia assim o diz. No entanto, é impossível avançar então além do que a Bíblia diz e derivar dela uma teoria empírica de epistemologia.

                    Se você acredita na ressurreição de Cristo por causa das percepções sensoriais 
de outras pessoas, ou mesmo de suas próprias percepções sensoriais, você não tem nenhuma defesa contra todas as supostas visões e aparições, mesmo aquelas que contradizem as que você defende. Mas visões e aparições contraditórias entre si não podem ser todas verdadeiras; assim, basear crenças religiosas em percepções sensoriais, sejam elas suas ou de outras pessoas, pode apenas resultar em confusão, incerteza e ceticismo. No entanto, se a nossa autoridade última são as Escrituras, podemos declarar com base nessa autoridade que aqueles que têm visões e experiências antibíblicas estão delirando.

                   Os cristãos creem na ressurreição de Cristo por causa do testemunho infalível dos apóstolos, e às vezes os apóstolos registraram o que eles ou outras pessoas viram, julgando esses casos particulares como sendo precisos por inspiração divina. É isso o que a Bíblia mostra sobre as percepções sensoriais ― às vezes elas são precisas, e às vezes elas não são precisas, e sabemos quando elas são precisas baseados na inspiração divina dos profetas e apóstolos. É obviamente impossível tomar isso e inferir que as Escrituras concedem algum grau de confiabilidade às sensações.  


                    É o testemunho infalível das Escrituras que dá confirmação a casos particulares de observações empíricas, e assim, aqueles que dizem que devemos dar um lugar às sensações em nossa epistemologia porque a Bíblia, às vezes, depende das sensações inverteram a ordem de autoridade. Sensações não confiáveis não podem provar ou refutar as afirmações bíblicas; por outro lado, as afirmações bíblicas podem provar ou refutar casos particulares de sensações. Mas, visto que ninguém hoje pode afirmar possuir inspiração ou infalibilidade divina, nenhum caso de sensação ou observação hoje pode ser certificado pela autoridade divina.


                       É obvio, então, que tudo acerca do cristianismo repousa na revelação bíblica. As 
Escrituras são a nossa autoridade última, e nada mais importa em contraste. Você pode fazer então a mais importante das perguntas: “Você faz com que tudo seja apoiado na verdade da Bíblia, mas a Bíblia é de fato verdadeira?”. Assim que você faz essa pergunta, o foco do debate se desloca da historicidade da ressurreição de Cristo para o princípio primeiro cristão da inspiração e infalibilidade bíblica. Se a Bíblia é de fato inspirada e infalível, tudo o que ela diz é verdade, incluindo tudo o que ela diz sobre a ressurreição de Cristo e sua importância. Se prosseguir por tempo suficiente, todo debate deverá ser finalmente resolvido no nível pressuposicional. E assim que o debate chega ao nível pressuposicional, o nível dos princípios primeiros, já o vencemos. 

Por Vincent Cheung, Questões Últimas; Editora Monergismo, 2009.
Tradução Marcelo Heberts























Um comentário:

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